Na sequência do recente e
inesperado surto de hiper-visão que parece ter irrompido no Estádio do Dragão,
responsáveis e comentaristas afectos ao Porto vieram a público apontar 12 erros
de arbitragem que, segundo os mesmos, terão prejudicado a equipa da invicta no
mais recente Sporting-FC Porto.
Esta súbita alteração de
paradigma surge na mesma semana em que se especulou sobre a existência de
resquícios de Veiga Trigo na memória colectiva portista, e deverá estar ainda,
segundo especialistas, relacionada com o deslocamento de placas tectónicas que
há dias atrás resultou no terrível terramoto de Aquila.
Efectivamente, entre os
lances de que o FC Porto se queixa estão também, nada mais nada menos, do que
os dois lances de golo do Sporting, que os portistas reclamam terem sido
precedidos de mão, apesar da opinião unânime de que foram jogadas legais e de que o Porto rematou apenas 1 vez à baliza contrária.
Para sabermos mais sobre esta
matéria, procurámos falar com um dos mais eminentes especialistas da área da
psico-subjectividade ocular, Dr. Afonso Ray-Ban, que alertou para os perigos
inerentes a esta debilitante patologia.
“A hiper-visão selectiva é
uma doença muito grave, porque pode ter implicações sérias no decorrer normal
do dia-a-dia de qualquer pessoa anormalmente obcecada com futebol. Nunca
sabemos quando pode atacar. Num dia podemos estar a celebrar os cortes do
Guarín com a mão e no dia seguinte a desejar que o Bryan Ruiz seja amputado por
mão involuntária. Num dia estamos a condecorar os cotovelos do Jorge Costa por
valorosos actos de guerra, no dia seguinte ficamos muito ofendidos com os
saltos do Coates.”
Porém, para o reputado
médico, há sinais que podem ajudar a prever o surgimento desta súbita doença.
Segundo ele, “esta doença é particularmente comum em quem evidencie sinais de
desorientação associados a um défice crónico de argumentos racionais,
decorrente de uma dieta demasiado rica em francesinhas”. E adianta: “No seu
limite, pode mesmo resultar em telefonemas madrugadores ao presidente da Liga
ou empurrões ao árbitro pelo campo fora, fazendo com que qualquer jogo se
assemelhe a um genocídio futebolístico perpetrado pelo Canelas 2010.” Ainda de
acordo com o mesmo especialista, estudos recentes e cruzamentos de dados
permitiram definir um ponto crítico de não retorno, o qual, após ultrapassado,
tem como consequência certa o crescimento de um bigode farto acima do lábio
superior. “Quando já não há volta a dar é quando se ultrapassa aquilo que em oftalmologia
moderna se chama a linha ‘Guerra-Serrão’, que consiste em exigir que se marquem
faltas aos adversários em lances que jamais aceitaríamos que nos marcassem
falta se fossem ao contrário. Após isto, as pessoas tendem a transformar-se em montes
amorfos de estrume, distinguíveis apenas pelo bigode à Artur Jorge e pela
incapacidade de saírem do sofá, e que se limitam a debitar as palavras
“escândalo”, “roubo” e “palhaçada” de permeio com uma sequência ainda mais
impenetrável de grunhidos e vagidos.
O que é certo é que, num
volte-face surpreendente, o FC Porto está agora para o futebol português como
um jogador do Leixões estava há uns anos atrás para os pontapés à retaguarda de
um dos meninos prodígio da sua secção de Taekwondo, Bruno Alves: combalido,
desnorteado e fora de combate.