Nos últimos dias muito se
especulou e opinou sobre os dotes de ‘portunhol’ evidenciados por Jorge Jesus
na ressaca da derrota do Sporting em Madrid. À baila vieram as mais
extraordinárias teorias, sendo a mais interessante a de que Jesus será na
realidade um filho ilegítimo de Savador Dalí – daí a propensão para criar obras
de futebol surrealistas.
“O Esférico”, porém, sabe
que Jorge Jesus desenvolveu este estranho dialecto quando estava ao serviço do
Benfica, pois era um pré-requisito obrigatório para a profissão, uma vez que a
língua oficial da formação encarnada é, precisamente, o ‘portunhol’.
“É reconhecido pelo mundo
inteiro do Dubai que o Benfica tem a melhor formação do planeta! Todos os dias
temos publicações e espiões do Dubai inteiro que vêm até ao Seixal perguntar ao
Jorge Mendes que prémios deverão atribuir a seguir.” Quem o afirma é uma fonte
próxima da imaginação de LFV, que, contudo, preferiu não se identificar.
Esta prática terá sido
iniciada em 2007, ano em que Vieira anunciou pela 4ª vez uma grande aposta na
formação. Desde então o Benfica tem formado telepaticamente alguns dos melhores
flops da América Latina, sendo o mais reputado clube a nível mundial no treino
de tiragem de passaportes, check-in de bagagens e embarque nos aeroportos de
Buenos Aires e São Paulo. São esses os casos, por exemplo, de Bergessio,
Urretavizcaya, Sidnei, Jara, Kardec e, mais recentemente, Talisca ou Mori –
entre tantos outros –, todos eles formados no Benfica após duas semanas
intensas de patuscadas no Restaurante “O Barbas”.
O processo é melhor
explicado por Cássio Saca-Rolhas, especialista em ‘formação por osmose’ do
clube da Luz. “A formação do Benfica não é uma coisa palpável, é uma coisa que
se sente”, começa por dizer. “Há por aí muita gente que diz que são precisos
muitos anos de esforços e sacrifícios continuados numa qualquer academia, mas
isso é falso. Por isso é que o nosso ‘formadouro’ se chama “Caixa Futebol”. Um
jogador chega, entra na caixa e sai de lá com a camisola do Benfica. Voilá!
Está formado no clube.”
Já este ano, com o novo
simulador 360º, o clube encarnado espera poder dar aos seus formandos uma
perspectiva tridimensional das banhas do Pedro Guerra, da arrogância lampiã, do
kit voucher, e de tudo o que precisam de saber sobre o benfiquismo em geral.
“Então, o processo será ainda mais rápido do que encomendar uma manchete no
Record”, exulta um entusiasmado Saca-Rolhas.
E os resultados estão à
vista. O clube espera lançar no mercado, já em Julho, mais uma fornada de sul-americanos
formados um mês antes no Seixal, tendo já sido abordados por vários colossos do
futebol europeu que perguntam pelos nomes desses jogadores e desejam saber quanto
milhões vão custar por cada capa de jornal.
Em relação aos técnicos
Jorge Jesus e Rui Vitória, Saca-Rolhas prefere não entrar em comparações, até
porque aprecia muito o penteado mais singelo de Rui Vitória, que não lhe ofusca
a visão que é necessário ter sobre o melão do Luisão, também ele um produto da
formação encarnada.
“O
Jesus dava-se muito bem com o ‘portunhol’, porque tem um mestrado tirado no
Belém, onde o Benfica punha a rodar toda a formação, até se lesionarem todos
misteriosamente antes das deslocações à Luz”, diz. E adianta mais à frente: “O
‘portunhol’ nasce precisamente quando um jogador de língua espanhola é exposto
a um visionamento intensivo das gravações do Eusébio e do seu português
adaptado ao mundo-benfiquismo saudosista. O Rui Vitória, evidentemente, só se
dá bem com o português, porque não existe em espanhol um equivalente para a
palavra ‘cebolada’. Por isso é que percebe melhor quando o Gonçalo Guedes ou o
Nélson Semendo lhe vêm dizer que o Jorge Mendes o mandou pô-los em campo,
porque em Maio têm que assinar pelo Wolverhampton.”