O Benfica está a preparar um
plano de contingência para colmatar a previsível ausência de adeptos nos próximos
jogos do clube, nomeadamente na claque oficialmente não oficial No Name Boys,
que de um golpe se viu privada de grande parte dos seus efectivos devido à onda
de prisões que resultou do protesto dos taxistas no dia de sexta-feira.
Embora o coordenador da política
de bons costumes e controlo de qualidade sebácea do Benfica, Jorge Máximo,
continue a monte na penugem facial do adepto Barbas, “O Esférico” sabe que outros
indefectíveis do clube encarnado não terão tido tanta sorte, uma vez que, com o
fim anunciado da actividade de taxista, ficarão incapacitados de extorquirem
turistas para comprarem os petardos e bastões que tanto colorido dão às
bancadas da Luz.
O emblema da águia sofre
assim um grande rombo no seu famoso manto, o qual, segundo um inquérito da
Universidade de Sernancelhe, é maioritariamente composto por taxistas,
estivadores, jornalistas e membros do conselho de arbitragem.
Fontes próximas da estrutura
benfiquista já vieram expressar a sua preocupação com o caso, admitindo terem em
marcha um plano alternativo de maus tratos às equipas de arbitragem e à língua
portuguesa.
Aos microfones do “Esférico”,
João Bataqueira, do Gabinete de Estratégias Maquiavélicas da SAD encarnada,
afirmou: “temos que estar preparados, porque a época é longa, e não podemos
passar muitos jogos sem uma claque que ameace violar as filhas virgens dos árbitros
ou ameace pô-los no desemprego. Estamos por isso a estudar o envio do João
Gobern para o topo sul do estádio, de onde poderá lançar uma sombra sobre toda
a humanidade e aturdir de forma muito concreta os adversários com o hálito
desmesuradamente ruim que deriva da quantidade de fezes verbais que expele
diariamente.”
Os
alarmes soaram no estado-maior benfiquista. Agora resta saber se o clube
consegue sobreviver unicamente com o futebol minimalista de Rui Vitória e a
poesia lírica da sua comunicação.
Um jovem adepto benfiquista
viveu hoje momentos de excitação na fila da bilheteira do Estádio da Luz,
quando julgou que uma senhora que ali vendia queijadas seria, na realidade, o
treinador espanhol Pep Guardiola.
Ainda mal refeito desta
comoção, o jovem, que pediu três vezes – sem sucesso – à provecta senhora que
retirasse o seu disfarce de megera engelhada, falou em exclusivo ao “Esférico”
sobre este – mais um – avistamento do ilustre timoneiro do Manchester City nas
imediações fantasiosas do recinto do Benfica.
“Por um lado, as regras
universais da lógica e do bom senso mandam-me desconfiar do facto de ninguém no
estádio ter alguma vez visto o Guardiola. Por outro lado, liguei logo ao Nuno
Farinha, ao José Marinho e ao José Manuel Freitas, e todos eles me confirmaram
que a senhora das queijadas era, sim, hipoteticamente e seguramente, o
treinador do City.”
O adepto, que milita
actualmente na equipa de bilhar adaptado da Tasca do Manel Corcunda,
acrescentou ainda outros detalhes sobre o episódio: “Estava muito bem
disfarçado de velha, ao ponto de não se parecer nada com o Guardiola. Nem o
tamanho dele tinha. Impressionante! Um verdadeiro profissional!”
Porém, confrontado com a
estranheza de Guardiola viajar mascarado como um figurante da Disney, o adepto
insiste, “Era ele de certeza! Via-se bem pelo olhar alucinado que deitava,
aleatoriamente, aos cartuchos de queijadas e aos clientes que não chegavam. Só
o Pep tem um olhar desses.”
Uma equipa de repórteres do
“Esférico” abordou, contudo, a suposta senhora das queijadas, quando esta fazia
negócio no parking do Pingo Doce de Benfica. Aos nossos microfones, a senhora
foi evasiva sobre esta especulação, tendo ainda assim declarado que vendia
“três pacotes pelo preço de dois”, se quiséssemos. Fica portanto no ar a
dúvida, que o Record se encarregará de transformar em manchete.
Entretanto, “O Esférico”
sabe que este jovem, que é um fã de futebol minimalista actualmente
desempregado e que tinha de recorrer ao subsídio de sobrevivência para poder
ver ao vivo as pauladas do Nélson Semedo, foi já recrutado para o Centro de
Fontes Seguras da Global Media, onde, ainda esta semana, deverá fornecer
testemunhos visuais fiáveis sobre as presenças de Ancelotti, Zidane e Mourinho
em Carnide.
Recorde-se
que o Centro de Fontes Seguras do gigante português dos media é uma força de
elite, onde apenas entram elementos que correspondam aos mais elevados
critérios do jornalismo de autor, tais como um completo desdém por regras de
verificação básicas, um panorama psicológico difuso e tingido de vermelho, e uma
capacidade nula de activar todo e qualquer pensamento racional.
“O Esférico” revela aqui em
primeira mão um furo jornalístico bombástico, que muito fará por esclarecer a
polémica da semana no futebol português. Afinal, terá Guardiola ido ao Estádio
da Luz ou não? Para uns é certo que sim, tendo em conta as diferentes fontes
jornalísticas e informações mais nebulosas que uma noite de nevoeiro em
Dezembro. Outros garantem até que estiveram a pouco metros do lendário
treinador catalão, tendo-o reconhecido pela farta cabeleira postiça e pelo
apurado sotaque alfacinha a pedir bifanas.
Porém, “O Esférico” está em
condições de garantir que tratar-se-á, sim, de um dos sósias mascarados de
treinadores que o Benfica mantém nas masmorras por baixo do relvado da Luz, que
ter-se-á escapulido durante a tarde de segunda e gerado toda esta natural
confusão nas mentes impressionáveis dos jornalistas portugueses.
Ainda segundo a nossa
investigação, tudo terá começado com uma intervenção do jornalista e moço de
estrebaria José Marinho, que, estando inocentemente a usufruir do voucher
semanal na Catedral da Cerveja com uma refeição muito espartana de lagosta e
champanhe, terá visto essa mesma versão de Guardiola passar, inconfundível, com
bigode, sombrero e o cartão de sócio do Benfica à lapela.
“Aí pensei para mim, tenho
que partilhar isto ao mundo, pois não é todos os dias que podemos plantar
notícias sobre pessoas que não vimos, com base em sugestões absolutamente
impossíveis de provar”, reconhece José Marinho, lendário soporífero humano.
Desde então, tem-se dado uma
onda de avistamentos de Guardiolas inédita! A histeria chegou mesmo a atingir níveis
estratosféricos nas redacções do Record e do Correio da Manhã, pois são as que
estão mais expostas às radiações emanadas da central de ficções literárias da
Luz.
“O facto do Guardiola ter
vindo disfarçado de Pepe Legal e não ter sido reconhecido por nenhuma das 50000
pessoas presentes não me causa estranheza nenhuma! Repare, o Casillas anda há
muitos anos disfarçado de guarda-redes de topo, e ninguém reparou nisso. Há
muita gente que faz o mesmo”, admitiu mais tarde José Manuel Freitas,
jornalista itinerante do departamento de fantoches gordos da CMTV.
Há quem garanta, porém, que
Guardiola esteve, sim, no estádio do Benfica, mas para observar as tácticas de
propaganda do jornalista José Marinho, e não qualquer jogador.
“O Esférico” sabe, contudo, que as masmorras
do Estádio da Luz estão repletas destes sósias de treinadores, que usam os mais
diversos disfarces para José Marinho poder garantir de fonte segura que são
mesmo eles. Existe até uma versão de Mourinho, que em meses de míngua financeira
é avistado recorrentemente nos corredores do estádio a garantir que vai pagar 80
milhões pelo Gonçalo Guedes.
De notar ainda que cada
treinador vem em diferentes versões mascaradas, dizendo um conjunto de frases
pré-programadas quando se lhe aperta o nariz. No caso de Guardiola, as frases “o
Grimaldo vai ser o melhor lateral europeu” e “soy d’el Benfiqué desde
pecanuto!” são um grande sucesso junto da pequenada encarnada.
Nas
masmorras do estádio dos encarnados encontra-se também o sentido ético do
jornalismo português, que ali é mantido a pão e torresmos há longo tempo, não
sendo visto em público desde o famoso caso das SMS’s de Jesus.
Uma nova descoberta no campo
da biologia vem agora contradizer aquilo que muitos especialistas julgavam
certo. É que, afinal, ao contrário do que se dizia, não era David Bowie a
versão humana do animal vulgarmente conhecido como camaleão. E há dados novos que
comprovam que tudo o que constava nos livros de história estava errado.
De acordo com Afonso Lima
Calhau, arqueólogo forense da área da biologia desviante, foram desenterrados,
numa expedição à Patagónia portuense, novas ossadas do há muito extinto
camaleão-maçon que revelam novos aspectos sobre os seus hábitos no passado.
“Pelo que sabemos, era um
animal particularmente errático, com uma sede insaciável de protagonismo. Nas
árvores gostava sempre de ser o primeiro a chegar ao galho, de onde proferia
intermináveis calúnias sobre o seu arqui-inimigo, o lagarto-listado-do-Lumiar.”
Esta, porém, não era a sua única
marca distintiva. Lima Calhau explica: “Era também conhecido por se camuflar na
tundra com mestria e trocar os ovos dos rivais por caganitas de verborreia sólidas.”
Eventualmente, esta espécie ter-se-á extinguido ainda no período cretáceo, obliterada
pela restante fauna, que não suportava o seu constante resmungar imbuído de
auto-satisfação, mas vazio de substância.”
Comparada esta espécie com
os comportamentos de Rui Gomes da Silva, os especialistas viram-se perante uma
única conclusão possível: será o conhecido comentador benfiquista o seu mais
provável descendente.
“As semelhanças são
espantosas”, exclama o arqueólogo, extasiado. “Desde logo, ficámos intrigados
com a capacidade do senhor – uma pessoa tão flagrantemente oca – passar por
humanóide português enfiando as palavras ‘slb’ e ‘bom e barato’ em qualquer
frase avulsa e desconexa. Ora, o camaleão-maçon da Patagónia portuense fazia o
mesmo no ritual de acasalamento, ao crocitar frases sem sentido com um ar de suma
importância que tudo parecia legitimar.”
“Sabemos também que num
período de desvario político, Gomes da Silva ter-se-á infiltrado um dia na
assembleia da república, à hora do almoço, e aí ter-se-á camuflado no papel de
parede do gabinete ministerial, conseguindo fazer-se passar por ministro
durante longos meses – um tempo ainda hoje considerado record para qualquer camaleão-maçon.”
Mas estes não serão os
únicos indícios que ligam o dirigente encarnado ao seu jurássico antecessor. O
agora comentador tem sido protagonista das mais insanáveis contradições, assim
como o camaleão-anão do cretáceo conseguia assumir a forma de diferentes laradas
de dinossauro.
A título de exemplo,
recorde-se que em 2013 Gomes da Silva disse “O Jesus fala de forma pura e
genuína! Não tem papas na língua e devíamos louvar esta frontalidade num mundo
tão cínico como este em que vivemos!” Porém, algum tempo depois, no programa O Dia
Seguinte – onde vai para se alimentar dos dejectos segregados por outros
opinadores – terá dito “O Rui Vitória fala de forma muito cordata e sonsa. Sabe
calar-se e devíamos louvar esta frontalidade num mundo tão desbocado e frontal
como aquele em que vivemos.”
Entretanto, o irascível
painelista não pára, tendo já novos planos para descredibilizar a raça humana. No
túnel de acesso ao seu covil do mal, terá dito aos repórteres que inadvertidamente
lhe telefonam 6 vezes por dia: “Jorge Jesus queria ganhar logo tudo. Qual era a
pressa? Um clube como o Benfica não pode ficar refém de resultados imediatos.” Uma
reviravolta impressionante, portanto, já que há uns anos atrás terá dito:
“Jorge Jesus quer ganhar logo tudo. Estamos com pressa! Um clube como o Benfica
não pode ficar refém de uma espera interminável.”
Após
estas declarações, Rui Gomes da Silva recolheu aos seus aposentos, onde, presume-se,
terá passado o resto da noite a segregar micro-gotas de veneno pelo ânus, que
depois mistura na Cerelac de “jotinhas” recém-nascidos. Estas tácticas de
dissimulação não são, todavia, inéditas. Relembre-se que LFV, antes de chegar
ao mais alto cargo do Lampistão, foi sócio de Benfica, Sporting e FC Porto em
simultâneo, sendo ainda hoje detentor do record de piruetas ideológicas nas
antigas piscinas de Alvalade.
Nos últimos dias muito se
especulou e opinou sobre os dotes de ‘portunhol’ evidenciados por Jorge Jesus
na ressaca da derrota do Sporting em Madrid. À baila vieram as mais
extraordinárias teorias, sendo a mais interessante a de que Jesus será na
realidade um filho ilegítimo de Savador Dalí – daí a propensão para criar obras
de futebol surrealistas.
“O Esférico”, porém, sabe
que Jorge Jesus desenvolveu este estranho dialecto quando estava ao serviço do
Benfica, pois era um pré-requisito obrigatório para a profissão, uma vez que a
língua oficial da formação encarnada é, precisamente, o ‘portunhol’.
“É reconhecido pelo mundo
inteiro do Dubai que o Benfica tem a melhor formação do planeta! Todos os dias
temos publicações e espiões do Dubai inteiro que vêm até ao Seixal perguntar ao
Jorge Mendes que prémios deverão atribuir a seguir.” Quem o afirma é uma fonte
próxima da imaginação de LFV, que, contudo, preferiu não se identificar.
Esta prática terá sido
iniciada em 2007, ano em que Vieira anunciou pela 4ª vez uma grande aposta na
formação. Desde então o Benfica tem formado telepaticamente alguns dos melhores
flops da América Latina, sendo o mais reputado clube a nível mundial no treino
de tiragem de passaportes, check-in de bagagens e embarque nos aeroportos de
Buenos Aires e São Paulo. São esses os casos, por exemplo, de Bergessio,
Urretavizcaya, Sidnei, Jara, Kardec e, mais recentemente, Talisca ou Mori –
entre tantos outros –, todos eles formados no Benfica após duas semanas
intensas de patuscadas no Restaurante “O Barbas”.
O processo é melhor
explicado por Cássio Saca-Rolhas, especialista em ‘formação por osmose’ do
clube da Luz. “A formação do Benfica não é uma coisa palpável, é uma coisa que
se sente”, começa por dizer. “Há por aí muita gente que diz que são precisos
muitos anos de esforços e sacrifícios continuados numa qualquer academia, mas
isso é falso. Por isso é que o nosso ‘formadouro’ se chama “Caixa Futebol”. Um
jogador chega, entra na caixa e sai de lá com a camisola do Benfica. Voilá!
Está formado no clube.”
Já este ano, com o novo
simulador 360º, o clube encarnado espera poder dar aos seus formandos uma
perspectiva tridimensional das banhas do Pedro Guerra, da arrogância lampiã, do
kit voucher, e de tudo o que precisam de saber sobre o benfiquismo em geral.
“Então, o processo será ainda mais rápido do que encomendar uma manchete no
Record”, exulta um entusiasmado Saca-Rolhas.
E os resultados estão à
vista. O clube espera lançar no mercado, já em Julho, mais uma fornada de sul-americanos
formados um mês antes no Seixal, tendo já sido abordados por vários colossos do
futebol europeu que perguntam pelos nomes desses jogadores e desejam saber quanto
milhões vão custar por cada capa de jornal.
Em relação aos técnicos
Jorge Jesus e Rui Vitória, Saca-Rolhas prefere não entrar em comparações, até
porque aprecia muito o penteado mais singelo de Rui Vitória, que não lhe ofusca
a visão que é necessário ter sobre o melão do Luisão, também ele um produto da
formação encarnada.
“O
Jesus dava-se muito bem com o ‘portunhol’, porque tem um mestrado tirado no
Belém, onde o Benfica punha a rodar toda a formação, até se lesionarem todos
misteriosamente antes das deslocações à Luz”, diz. E adianta mais à frente: “O
‘portunhol’ nasce precisamente quando um jogador de língua espanhola é exposto
a um visionamento intensivo das gravações do Eusébio e do seu português
adaptado ao mundo-benfiquismo saudosista. O Rui Vitória, evidentemente, só se
dá bem com o português, porque não existe em espanhol um equivalente para a
palavra ‘cebolada’. Por isso é que percebe melhor quando o Gonçalo Guedes ou o
Nélson Semendo lhe vêm dizer que o Jorge Mendes o mandou pô-los em campo,
porque em Maio têm que assinar pelo Wolverhampton.”
Não têm sido felizes os dias
nas trincheiras encarnadas, agora que se sabe que o Sporting escapou
decididamente à bancarrota e que irá mesmo entrar em campo para defrontar o
Real Madrid, em jogo a contar para a Liga dos Campeões.
De um golpe, os adeptos
benfiquistas viram-se privados daqueles que constituíam o princípio, meio e fim
do seu stock de piadas sobre o clube de Alvalade. Dificilmente se verão, nos
próximos tempos, figuras tão importantes como o jardineiro da câmara a dizer
para o colega “amanhã é a Champignons, estás de folga”, ou o copeiro da
Portugália a acusar o amigo de “só bater em ceguinhos na Liga Europa.”
Para um adepto em
particular, o choque foi demasiado grande para aguentar, como explica a sua
mãe, Maria das Dores, ao “Esférico”. “O Tó já andava muito em baixo desde que
soube que o Jesus ia para o Sporting. Mas ia-se aguentando, porque na escola sempre
podia dizer aos lagartinhos que para eles a ‘champiôns, só no sofá’, e
que eram uns sortudos, ‘porque têm sempre folga à quarta’, entre outras
alarvidades típicas de quem tem um cromossoma extra para a basófia.”
Compungida, Maria das Dores olha para o céu, acrescentando “Era quase uma
religião para ele! Chegava mesmo a entrar em transe, como um monge, sempre a
murmurar ‘na quarta jogam na Playstation… na quarta jogam na Playstation’ – e
assim mais de mil vezes.”
Porém, um dia tudo mudou,
quando veio a público que o Sporting não ia desaparecer de um dia para o outro
devido ao diferendo com a Doyen, como tinham garantido estranhamente sincronizados
vários comentadores afectos ao Benfica. Para o Tó, a tragédia precipitou-se a
partir daí. Primeiro foram os anti-depressivos – uma dose cavalar deles –,
depois o acidente fatal. Já nesta terça-feira, vendo Jorge Jesus a fazer a
antevisão do Real Madrid-Sporting, Tó saiu desvairado de casa e nunca mais
regressou. A sonolência mórbida provocada pela medicação e a falta de objectividade
– crónica – que há muito lhe cegava uma das vistas fizeram o resto:
atravessando a estrada na altura errada, acabou por ser atropelado por um
camião carregado de modéstia.
Junto à sua cama de
hospital, a mãe do jovem adepto deixa o aviso: “que isto sirva de lição para
toda a gente! Não se acomodem sempre à mesma piada. Um dia deixa de ser útil e
podem acabar como o meu filho.”
Como o Tó, julga-se que milhares
de outros benfiquistas sofram hoje em silêncio, seja por vergonha, ou falta de
meios para consultarem um especialista. “Isto é como tudo na vida”, afirma o
sociólogo José Pereira Fontório, “num dia pomos toda a nossa fé numa única
piada, habituamo-nos a um certo estilo de gozo, e no dia seguinte tudo muda.
Estas perturbações súbitas de massa cinzenta podem causar danos significativos
nas pessoas, sobretudo em quem já está confuso por anos e anos de numerologia fantasiosa
que não consegue suprir as nossas carências emocionais.”
O jovem Tó continua, à hora
da publicação desta reportagem, em estado de coma no Hospital de Santa Maria,
com prognóstico muito reservado. Não poderá portanto assistir à estreia nos
convocados de João Carvalho, outro futuro Bola de Ouro da melhor formação do
Dubai.
Parece não ter fim o
fascínio da UNESCO pelas maravilhas do nosso país. Depois de em 2013 ter
considerado o fado como património imaterial da humanidade, e de querer fazer o
mesmo com o cante alentejano, agora a ilustre organização da ONU prepara-se
também para dar início ao processo de homologação do recinto do C.F.
Belenenses.
“O Esférico” está até em
condições de adiantar que as conversações estarão já muito avançadas, com vista
a que tudo fique concluído a tempo das comemorações do Dia Mundial da Árvore.
Celorico Hortaliça, chefe de
gabinete da ‘agência para a proliferação da alface’, expressou ao “Esférico” a
sua opinião sobre esta matéria: “Não há dúvidas sobre isto. Fizemos um
levantamento exaustivo do território de Portugal e chegámos à conclusão que não
existe praticamente nenhum sítio que não tenha sido violentamente esfacelado
pelo Homem, a não ser as bancadas do Estádio do Restelo. É a última floresta
virgem do país!”
Ainda segundo a UNESCO, o
recinto do Belenenses tem a vantagem de possuir um micro-clima muito próximo do
que terá sido a atmosfera da Terra antes da revolução industrial, uma vez que “está
permanentemente desabitado e apenas é pisado aos domingos por uma manada de gado
vestida de azul, que ali fica a pastar durante hora e meia, mas que, contudo,
não tem qualquer influência no delicado equilíbrio bioquímico dos ares de
Belém.”
Este anúncio surge na
sequência de outras iniciativas do género, como a nomeação da ‘torre de
Lopetegui’ como bem de utilidade pública ou o encerramento ao público das zonas
baixas de Lili Caneças, outro monumento vetusto de Lisboa, agora já longe dos
seus tempos de glória.
“O que torna o anfiteatro do
Belenenses tão especial é que é nutrido por um micro-clima particular, no qual
a concentração de partículas ‘poli-saudosistas’ é muito superior ao normal,
devido à convicção profunda das suas gentes de que o clube tem algum tipo de
relevância no futebol actual”, acrescenta ainda Hortaliça.
Ainda segundo a mesma fonte,
outro factor que contribuirá também para esta honrosa distinção é o facto da vegetação se encontrar permanentemente
humedecida pela saturação das lágrimas dos autóctones nas áreas circundantes,
os quais, “ainda que não se atrevam a entrar no mítico recinto, contribuem
assim indirectamente para que aquela continue a ser a única área selvagem não
queimada do país.”
Cinco! Nada mais, nada
menos, do que cinco artigos sobre José Gomes publicados no site do Record, após
saber-se que o jogador iria colmatar as ausências de Jonas e Jiménez na convocatória
para o jogo de sexta-feira, em Arouca.
Isto assinala um novo máximo
na Escala de Farinha, que mede os níveis de denguice editorial, tendo ainda o
jovem atleta da equipa B do Benfica sido referido em pelo menos 18 outros
artigos noutros jornais, incluindo um sobre um cozinheiro obscuro de Caracas,
que em 1999 (ano do nascimento de José Gomes) terá avistado a imagem do Cristo
Redentor nas regiões baixas de uma tortilla no restaurante onde
trabalhava. Essa imagem, garantem agora os jornalistas do Record, corresponderia
afinal à do jovem pubescente do Benfica B.
“O Esférico” contactou
fontes próximas do Gabinete de Ejaculações Precoces daquele diário desportivo,
mas não conseguiu obter uma resposta, uma vez que toda a equipa de investigação
foi enviada ao ano de 62 A.C. para procurar igualmente nos céus de Olisipo
(antiga Lisboa) augúrios cósmicos sobre a vinda do Profeta Negro à Terra – que
agora se suspeita ser José Gomes, precisamente.
Esta não é a primeira vez
que os jornais desportivos portugueses são assolados por aquilo que os
compêndios médicos denominam de ‘síndrome do Eusébio renascido’, após no ano
passado Renato Sanches ter sido votado o maior jogador de todos os tempos pela
Academia das Taradices Relativas da imprensa portuguesa.
Segundo o professor Hernâni Bitaites,
laureado em para-psicologia circense, esta patologia enquadra-se no domínio das
infecções contagiosas, bastando, para se dar o contágio, que uma pessoa esteja a
menos de 20 metros das lustrosas madeixas do Nuno Gomes, as quais libertam doses
microscópicas de uma sub-espécie de amianto vermelho capaz de neutralizar a
capacidade de raciocínio de qualquer mamífero consumidor de cebolada.
Os sintomas mais graves são
a inibição da glândula da modéstia, a inclusão da exclamação “Benfica!” a cada
duas frases aleatórias, e o exercício compulsivo de lambe-botismo jornalístico
a troco de bilhetes e copos de whisky do Eusébio.
É de salientar que o emblema
da águia não é alheio a estes surtos, estando por trás da histeria ligada a ‘prodígios’
como Mantorras, Nélson Oliveira, Freddy Adu, Urretaviscaya, Cortez, Carlitos, ou
qualquer jogador que tenha dado um chuto de vermelho vestido.
Embora não seja conhecida
uma cura definitiva para esta condição, é de conhecimento comum que uma estadia
nas neves da Antártida pode ter efeitos suavizantes e aliviar a pressão
constantemente sentida para se inventar notícias.
Que o diga
joaquim_mangusto_1239, pseudónimo virtual de um ex-jornalista, que foi
internado por esgotamento na ala psiquiátrica do Júlio de Matos em 2015, após
os fatídicos dias que se seguiram à estreia de Renato Sanches. “Foi uma
loucura! Ainda mal o miúdo tinha dados dois nós num defesa do Tondela e já
estávamos encarregados de imaginar para ele todo um futuro que jamais
acontecerá, para justificarmos as despesas em porta-chaves que o glorioso
tem connosco. Nem o Ronaldo teve direito a tantas manchetes fictícias!”, afiança o
malogrado repórter. E remata: “É verdade que o José Gomes ainda nem convocado
foi e oferece tanta esperança como a careca do Krpan, mas tem tudo para superar
os números do Ronaldo nas alucinações colectivas das redacções de Portugal
inteiro, porque foi isso que o saudoso Mário Wilson previu numa noite em que a constelação
de Libra estava alinhada com o Estádio da Luz – e isto é factual!”
Nota da redacção: Ao fecho desta edição José
Gomes já se havia estreado com a camisola encarnada, estando 5 minutos em campo
e originando de imediato uma corrida aos bancos panamianos por parte de Peter Lim e do
Wolverhampton, para definir quem conseguirá bater os cerca de 50 milhões que o
jogador ter-se-á valorizado no decurso de dois sprints inconsequentes e uma
desmarcação sideral. Isto, note-se, apesar de militar numa equipa que joga um
sucedâneo pobre daquilo que é normalmente chamado futebol.
Numa gravação secreta da
entrevista concedida por Luís Filipe Vieira à TVI a que “O Esférico” teve
acesso, o presidente encarnado revelou a sua satisfação com os resultados
obtidos pelo programa de alimentação de árbitros do Benfica e manifestou a sua
vontade de alargá-lo à escala nacional.
Este programa, conhecido
como Programa Voucher Premium Eusébio, representou um dos temas mais quentes da
época transacta, sendo inevitável a sua abordagem na entrevista, embora se
desconheçam os motivos porque a TVI terá omitido este trecho do directo. À
redacção do “Esférico”, fontes da estação privada garantiram porém que tudo não
passou de um lapso atribuído à interferência das calotes árcticas que se deslocam
do norte nesta altura do ano, e que o directo “foi imediatamente retomado assim
que as perguntas desprovidas de pertinência voltaram à baila.”
Falando a Diamantino
Miranda, que acabava de atingir o clímax orgásmico com as bicadas a Jorge
Jesus, o nada orelhudo líder encarnado justificou a existência do programa
Voucher com a necessidade de receber bem os árbitros. E garantiu ainda que a
oferta de tantos vouchers não afecta a neutralidade dos homens do apito, uma
vez que um dia foi assistir à alimentação do Pedro Guerra e ficou enojado com o
que viu. “Quanto muito, predispõe-os contra nós”, disse. “A lagosta cai-lhes
mal e, às tantas, quase que vêem as faltas cometidas pelo Jardel na área. Mas
depois passa-lhes, porque ao molho das trufas juntamos sempre uma poeirazinha
retirada da Taça da Liga roubada ao Paulo Bento, e isso deixa-os num estado de
sugestão letal em que se julgam todos afagados pelo enorme manto encarnado.”
Sobre o programa, mais
concretamente, Vieira explicou a sua visão para o futuro. “Teve resultados
admiráveis, ao ponto de nem termos tido que recorrer ao Barbas para distrair os
adversários. Agora, queremos transformá-lo num programa nacional de
alimentação, em que cada criança recebe à nascença um voucher com direito a
bifanas nas rulotes da Luz e um stock inesgotável de basófias como “somos os
maiores”, “o glorioso somos nós” e “ninguém pára o Benfica”.
Para além disso, Vieira
abordou ainda outros temas da actualidade, garantindo que a vontade do clube era
que Jesus tivesse ficado, mas assegurando também que este não era o treinador
certo para o Benfica. O presidente do grande português prometeu ainda uma
batalha sem tréguas aos inimigos dos encarnados no domínio da ficção
comentarista, tendo garantido que os mártires do painelismo encarnado terão à
sua espera no céu um plantel de jovens virgens 100% formadas no Seixal.
Ainda sobre esta matéria,
prometeu também deixar de investir em jogadores a curto prazo. Relembre-se que
esta é a primeira vez que Luís Filipe Vieira promete deixar de investir em
jogadores desde o mês passado, depois de ter prometido não investir em
jogadores em 2012, 2013, 2014 e 2015.
Na mesma entrevista, o
presidente das águias confessou também ter conversas frequentes com Deus, nas
quais Este ter-lhe-á dito que Renato Sanches ainda vai render 400 milhões ao
clube por objectivos, pois é uma entidade divina e irá reencarnar 4 vezes como jovem
júnior no Seixal. Após o que o Pinóquio-Supremo da Luz recolheu aos balneários do
seu vetusto bigode, onde irá passar o inverno a urdir mais imbricados e
verbosos impropérios para gritar aos dirigentes da Liga na tribuna do Estádio
da Luz.
A polémica estalou na
sexta-feira, altura em que foi divulgada a lista do Benfica para a Liga dos
Campeões. Num raro vislumbre de objectividade jornalística, vários diários desportivos
romperam por instantes a tradição de nunca escreverem nada que belisque a reputação
do Benfica ao informarem que o clube encarnado tem apenas três jogadores da
formação no plantel. A notícia caiu que nem uma bomba junto dos adeptos do
clube, que até aqui julgavam que Jovic, Zivkovic, Kalaica e Benitez também o
eram, por nunca os terem visto a jogar.
Joaquim Fosquinhas, jornalista
do Record com a pasta das manchetes das
Algumas obras emblemáticas de
Joaquim Fosquinhas
‘vendas milionárias do SLB que
jamais serão realidade’, fez uma pausa na elaboração de babosas declarações
de amor ao Benfica no Facebook para confessar ao “Esférico” as dificuldades inerentes
a este artigo. “Tudo começou por ser um dia perfeitamente normal. Acordei ao
som do ‘Sou Benfica’, fiz uma oração por São Vítor Pereira e vesti com perverso
prazer as minhas cuecas edição especial Caniggia. Assim que me meti no
autocarro, depois de já ter tragado um whiskyzito em memória do King, comecei
logo a redigir na minha mente uma mentira qualquer sobre o Bruno de Carvalho, e
ia já todo contente a pensar nos bilhetinhos grátis para a bancada Emirates
quando o director me chama ao gabinete dele. Percebi logo que era grave, porque
estava a chorar compulsivamente sobre o retrato orelhudo do Luís Filipe
Vieira…”
Foi então, segundo
Fosquinhas, que António Magalhães lhe deu uma ordem que mudou a sua vida para
sempre. “Olhe, disse-me que tinha mesmo que escrever sobre isto, senão o Jesus revelava
tudo na próxima conferência de imprensa e obrigava os adeptos do Benfica a
contar até três sem o filtro encarnado do Record. Não tivemos escolha.”
Logo após a publicação da notícia
– conta ainda, emocionado, o repórter – os estafetas que traziam os bilhetes de
jogo deixaram de aparecer. “Sinto que cometi um crime lesa-majestade e que agora
sou um vilão de uma intriga do João Gabriel”, desabafou, flagelando-se
múltiplas vezes nas costas. Embora não fosse totalmente claro – pois Fosquinhas
sufocava num mar de baba –, é provável que estivesse a referir-se ao Acordo
Ortográfico Cosme Damião, que impede, sob ameaça de despedimento, a publicação de
palavras grisalhas sobre o clube encarnado. “Até aqui consegui enganar-me a mim
próprio, acreditando que sou um jornalista a sério. Mas a partir de agora, quem
é que vai acreditar nos meus louvores à ‘estrutura’ e ao ‘toque de Midas’, se for
obrigado a escrever factos verídicos sobre o glorioso?”, lamentou-se,
profetizando um futuro de intensa mágoa antes de se despedir. “Agora, se me
permitem, vou ali imolar-me aos pés da estátua do Eusébio com os meus outros
colegas que foram também barbaramente forçados a replicar esta notícia.”
Porém, o director para os
assuntos matreiros do Benfica, João Metralha, apresenta uma versão completamente
diferente do assunto. E aponta para um critério próprio na identificação de
jogadores da formação.
Sentado no seu cadeirão
feito das almas amarfanhadas de jornalistas, falou em exclusivo para “O
Esférico” sobre esta matéria. “Essa notícia é completamente falsa! É uma ofensa
à memória do Eusébio! E quem escreveu isso não gosta de pessoas negras nem de
criancinhas inocentes e vai ser processado – e isto não é de modo nenhum uma
forma de coagir jornalistas e opinadores! Escute lá, você gosta de teatro…? Não
quer um camarote para o musical do Benfica, não…?”, começou por insinuar, ameaçar
e aliciar o ardiloso dirigente.
“Bem, mas vejamos lá isso.
Nós, só neste plantel, temos uns 20 jogadores formados no Benfica! Não
acredita? É o Dubai que o garante! E eles têm critérios mais fiáveis do que a
FIFA, com base no livro de cheques do Jorge Mendes. Mas olhe,” interrompeu, “tem
a certeza que não quer um destes docinhos colombianos…? Ou um relógiozito da
Fundação Benfica?”
Todavia, perante a
insistência do nosso enviado especial, Metralha lá acabou por esmiuçar os
critérios da formação encarnada. “Pronto, eu explico, não fuja… Sabe, nós temos
um sistema de formação universalista, ou seja, assente no capricho onírico do
nosso grande e orelhudo líder. Para nós, qualquer pessoa que beba cerveja em
canecas oficiais do Benfica é da formação do Benfica. Temos uns 2 milhões de
homens, mulheres e homúnculos prontos a darem o seu contributo…assim que a UEFA
alterar as suas injustas regras que não tiveram o consentimento do nosso Pinóquio-Supremo.
Tanto inscrevemos aqueles três na Champions, como poderíamos ter inscrito o
filho da dona Rosa das rulotes, que desde catraio bebe Sagres nas nossas
canecas e sonha de noite que faz cabritos ao Eliseu nos verdes campos do
Seixal. Ou até o Rafa, que já no berço era amamentado com uma espécie de
benfiquismo latente que se manifesta 20 anos mais tarde conforme as conveniências.
E você, não quer ser também da nossa formação? Veja lá… Tenho aqui uma
canequinha…”
Aos
leitores do “Esférico”, fica aqui, portanto, o esclarecimento.
■Mamífero de
porte médio, da ordem dos carnívoros, que prosperou nos campos relvados do
norte.
■Descendente
remoto da hiena-listada anã, criatura da era jurássica que caçava as suas
presas projectando-se sobre elas a pés juntos, após breves escaramuças no túnel
de acesso à savana.
■Lendário
caluniador, mas com um léxico limitado, revelava na hora de injuriar, contudo, um conhecimento profundo dos costumes eróticos das mães dos visados.
■No que toca aos
seus hábitos alimentares, este predador evidenciava um apetite voraz, saciando-se
várias vezes ao dia com as carreiras desfeitas de jovens júniores do FC Porto,
reservando todavia as grandes refeições para o fim-de-semana, as quais
consistiam essencialmente nas tíbias e fémures dos seus adversários, sendo ainda
a cabecinha-de-João Pinto a murro uma iguaria por ele muito apreciada.
■De fulgor
precoce, mas de rápido desgaste (como o rito sexual de um aficionado da
musculação), o pico da sua actividade dá-se normalmente entre os 20 e os 35
anos, período em que a sua reputação de devorador de árbitros está no auge.
■Velho e
descredibilizado, pode ser hoje encontrado a pastar tranquilamente nos
verdejantes prados do Centro de Treinos de Gaia, onde introduz jovens jogadores
azuis-e-brancos às técnicas de demolição de pernas.
■Contudo,
não conseguiu evitar, numa batalha contra o seu arqui-inimigo Beto Acosta, a
perda de parte do maxilar, o qual ainda se encontra exposto no Museu do
Sporting, ao lado de outros despojos de guerra, como a touca de dormir do
Rodrigo Tiuí ou o certificado de desparasitação de Mário Jardel.
“O Rafa está muito melhor
desde que assinou pelo Benfica.”
Quem o afirma é Evaristo
Malquisto, secretário técnico da FPF, que tem acompanhado de perto a evolução
do jogador desde que este falhou um golo de baliza aberta contra o Benfica, na
final da Supertaça.
Desde então, é sabido, as
leis da física obrigaram a que o jogador se mantivesse indivisível e optasse por
fazer prevalecer a capa do jornal
Numa decisão dramática, jogador teve que escolher entre ser capa do Record ou capa d'A Bola.
Record, o que levou a que 'A Bola' entrasse em
espiral descendente após ter garantido que Pinto da Costa firmara a sua
contratação, com a inclusão no negócio de uma cláusula de acesso à boite Calor da
Noite para toda a equipa técnica do Braga.
Evaristo Malquisto, que há
dois anos atrás era massagista amador em Vila Nova de Fânzeres, foi também ele
descoberto por olheiros do Benfica, após uma exibição em grande nível no
Campeonato Regional de Massagens à Próstata, tendo assinado com os encarnados
na época de 2014/2015. Poucos dias depois, era já o eleito por Fernando Gomes
para massajar os peitorais oscarizados de Cristiano Ronaldo. O seu percurso é
portanto, como o próprio salienta, muito semelhante ao de Rafa.
“A evolução de Rafa tem sido
tão extraordinária desde que assinou ontem à noite pelo SLB que não resta outra
alternativa a Fernando Santos senão dar-lhe a titularidade absoluta e vitalícia
na selecção, pelo menos enquanto estiver na Luz!”, adiantou. “Acredito mesmo
que seja desnecessário colocar outros colegas dentro de campo, porque só o
valor base do Rafa chega para tornar o CR7 numa flatulência nostálgica do
passado, e temos ainda que ter em conta que cada milhão que o Rafa encareceu
nos últimos dias corresponde a uma finta adicional no seu arsenal de reviengas”.
Imediatamente, o “Renato
Branco”, como os adeptos encarnados desde sempre tão carinhosamente o chamam
desde ontem, granjeou uma tremenda onda de apoio nas conferências de imprensa,
calculando-se que 4 em cada 5 perguntas sejam sobre o cachecol do Benfica que
usava ao pescoço na sua breve passagem pelo útero da sua mãe.
“Se calcularmos o número de
milhões pagos por ele, e multiplicarmos isso pelo número de capas que o Jornal
do Benf… – err, perdão, o Record, fez sobre ele, verificamos que o jogador,
desde segunda à noite, valorizou-se uns 200 milhões de euros e é já candidato à
Bola de Ouro, fazendo dele o jogador mais caro de sempre a sair do Benfica por
3 milhões de euros. Isto é parecido ao cálculo que fizemos do Gonçalo Guedes,
que por ter jogado meia-dúzia de vezes no onze titular e fintado 1 ou 2 pinos
no treino vai já ser vendido por 30 milhões ao Valência. 3 milhões pelo passe +
27 milhões quando ganhar indiscutivelmente a Bola de Ouro.”
Porém, vale a pena recordar que
estes saltos qualitativos não são raros no futebol nacional, sobretudo quando
se relacionam com transferências para o Porto e o Benfica. Não é preciso
recuarmos muito para nos lembrarmos dos extraordinários casos de Licá ou Josué,
que numa semana eram uns cepos que nem entravam no onze ideal da Liga dos
Últimos, e na semana seguinte eram uns prodígios de fazer inveja ao Messi, com
via directa para o onze inicial de Paulo Bento, só porque assinaram pelo Porto
e o regime de treinos no Centro de Gaia é muito intenso, com todas aquelas
trepadelas à torre de observação.
Também Custódio ou Hugo
Viana passaram por semelhante processo, assim que perderam no Centro de
Recauchutagem da Gestifute todos os traços futebolísticos que faziam deles o
Custódio e o Hugo Viana – pelo menos aos olhos do seleccionador. Ou, mais
recentemente, os casos de Ivan Cavaleiro e Nelson Semedo, do Benfica, que após
um total de 4 cruzamentos falhados e 3 aparições no Main entre eles ganharam o
direito de jogar ao lado de Cristiano Ronaldo.
De fora deste milagre ficam,
para já, todos os jogadores do Sporting,
por não terem acesso ao néctar mágico
que jorra das tetas de Jorge Mendes, nem à lista de reforços do Guardiola que o
João Gabriel redige nos intervalos das suas criações literárias. Assim, terão
que continuar a trabalhar três vezes mais que os outros só para que Fernando
Santos os convide para assistirem aos jogos da bancada, isto apesar de terem um
valor de mercado muito superior aos restantes.
Na sequência do recente e
inesperado surto de hiper-visão que parece ter irrompido no Estádio do Dragão,
responsáveis e comentaristas afectos ao Porto vieram a público apontar 12 erros
de arbitragem que, segundo os mesmos, terão prejudicado a equipa da invicta no
mais recente Sporting-FC Porto.
Esta súbita alteração de
paradigma surge na mesma semana em que se especulou sobre a existência de
resquícios de Veiga Trigo na memória colectiva portista, e deverá estar ainda,
segundo especialistas, relacionada com o deslocamento de placas tectónicas que
há dias atrás resultou no terrível terramoto de Aquila.
Efectivamente, entre os
lances de que o FC Porto se queixa estão também, nada mais nada menos, do que
os dois lances de golo do Sporting, que os portistas reclamam terem sido
precedidos de mão, apesar da opinião unânime de que foram jogadas legais e de que o Porto rematou apenas 1 vez à baliza contrária.
Para sabermos mais sobre esta
matéria, procurámos falar com um dos mais eminentes especialistas da área da
psico-subjectividade ocular, Dr. Afonso Ray-Ban, que alertou para os perigos
inerentes a esta debilitante patologia.
“A hiper-visão selectiva é
uma doença muito grave, porque pode ter implicações sérias no decorrer normal
do dia-a-dia de qualquer pessoa anormalmente obcecada com futebol. Nunca
sabemos quando pode atacar. Num dia podemos estar a celebrar os cortes do
Guarín com a mão e no dia seguinte a desejar que o Bryan Ruiz seja amputado por
mão involuntária. Num dia estamos a condecorar os cotovelos do Jorge Costa por
valorosos actos de guerra, no dia seguinte ficamos muito ofendidos com os
saltos do Coates.”
Porém, para o reputado
médico, há sinais que podem ajudar a prever o surgimento desta súbita doença.
Segundo ele, “esta doença é particularmente comum em quem evidencie sinais de
desorientação associados a um défice crónico de argumentos racionais,
decorrente de uma dieta demasiado rica em francesinhas”. E adianta: “No seu
limite, pode mesmo resultar em telefonemas madrugadores ao presidente da Liga
ou empurrões ao árbitro pelo campo fora, fazendo com que qualquer jogo se
assemelhe a um genocídio futebolístico perpetrado pelo Canelas 2010.” Ainda de
acordo com o mesmo especialista, estudos recentes e cruzamentos de dados
permitiram definir um ponto crítico de não retorno, o qual, após ultrapassado,
tem como consequência certa o crescimento de um bigode farto acima do lábio
superior. “Quando já não há volta a dar é quando se ultrapassa aquilo que em oftalmologia
moderna se chama a linha ‘Guerra-Serrão’, que consiste em exigir que se marquem
faltas aos adversários em lances que jamais aceitaríamos que nos marcassem
falta se fossem ao contrário. Após isto, as pessoas tendem a transformar-se em montes
amorfos de estrume, distinguíveis apenas pelo bigode à Artur Jorge e pela
incapacidade de saírem do sofá, e que se limitam a debitar as palavras
“escândalo”, “roubo” e “palhaçada” de permeio com uma sequência ainda mais
impenetrável de grunhidos e vagidos.
O que é certo é que, num
volte-face surpreendente, o FC Porto está agora para o futebol português como
um jogador do Leixões estava há uns anos atrás para os pontapés à retaguarda de
um dos meninos prodígio da sua secção de Taekwondo, Bruno Alves: combalido,
desnorteado e fora de combate.
Com a expulsão no jogo
frente ao FC Porto, esta foi a 4ª vez que Jorge Jesus foi convidado a sair do
banco desde que chegou ao Sporting. Tal não acontecia desde que José Manuel
Coelho foi expulso da assembleia regional da Madeira 7 vezes na mesma semana. A
fasquia está agora mais elevada, uma vez que a verificar-se uma 5ª expulsão o
lendário treinador terá entrada garantida no panteão dos mal amados, onde, para
além do supracitado deputado, juntar-se-á a nomes como Marco Materazzi,
Fernando Couto, ou o próprio Belzebu, que foi expulso uma vez do reino dos
céus, mas com efeitos irreversíveis.
A verificar-se também, Jesus
pulará imediatamente para o topo da lista dos treinadores mais bem pagos do
mundo, isto com base numa equação de tempo útil por milhão auferido, já que ultimamente
tem passado mais tempo na bancada a tirar selfies com os adeptos do que
a comandar a equipa no relvado.
Contactado pelo “Esférico”,
o Conselho de Arbitragem da Liga não soube ou não pôde pronunciar-se sobre esta
polémica, tendo remetido eventuais esclarecimentos para a névoa de incertezas
em que as mais altas instâncias do futebol nacional sempre deixam os adeptos.
Porém, num guardanapo
resgatado do restaurante onde o estado-maior da arbitragem se reúne para pedir
conselhos deontológicos ao fantasma de Pinto de Sousa – e a que “O Esférico”
teve acesso – encontrámos apontado o cálculo que preside a estas sanções disciplinares.
E o processo é muito
semelhante ao cálculo que o fisco faz do IMI.
Se, por um lado, o governo calcula a tributação do IMI multiplicando o
valor base pela área total da casa, os árbitros calculam as baboseiras
debitadas pelo Jorge Jesus na linha lateral e multiplicam-nas pela área total
da sua frondosa cabeleira, o que dá, geralmente, um valor bastante elevado e,
portanto, passivo de castigo.
Só assim se explica que
Jesus seja o treinador mais punido do futebol actual, apesar das explosões bíblicas
de Simeone ou das indelicadezas culinárias de Rui Vitória, que por estar sempre
a ruminar algum resto de cebolada torna impossível entender o que quer que seja
de inócuo que está a dizer em qualquer momento do jogo.
“O Esférico” pôde também
apurar que o sistema de classificação dos árbitros (que decorre dos sonhos
molhados de Rui Gomes da Silva) sofreu profundas alterações em relação a épocas
anteriores, agora que Jesus está à frente da equipa de Alvalade. Ao passo que
Marco Ferreira foi despromovido por expulsar o treinador quando este comandava
as águias, é expectável que agora estes quatro bravos árbitros sejam agraciados com a
Ordem de Voucher da República de Carnide e, consequentemente, homenageados com
estátuas suas no Museu Cosme Damião, ao lado do altar onde consta a farda que
Jorge Ferreira envergou no dia em que apitou o último P. Ferreira-Benfica.
Todavia, no rescaldo do
escaldante Sporting-Porto de ontem, circulavam já rumores pelos corredores de
Alvalade que sugerem que os leões estarão a ponderar atribuir novas funções ao
enérgico treinador leonino.
Falámos com o
director-adjunto de marketing do clube verde-e-branco, que nos garantiu que o
novo papel de Jorge Jesus gerará uma mina de ouro e fará as delícias junto dos
adeptos. “O Jorge irá agora integrar a equipa de restauração móvel do Estádio
Alvalade XXI, o que é o mesmo que dizer que vai ser vendedor ambulante de
queijadinhas e amendoins e irá percorrer as bancadas durante os jogos
orientados pelo Raúl José”, acabou por confessar. “É que vê-lo a subir e descer
bancadas é já um ex-libris dos jogos do Sporting, e a destreza com que se
move entre os adeptos é notável. Para além do mais”, acrescenta, “a equipa está
tão bem treinada que não precisa dele para nada no banco, basta-lhes olhar para
o cenho perpetuamente enfurecido do Octávio Machado.”
Contactado também pelo “Esférico”,
o veterano treinador dos leões confirma esta versão, dizendo-se preparado para
iniciar os treinos de arremesso de pacotes a qualquer altura. “Épá, isto é uma
vocação natural que me surge naturalmente pá”, afirmou. “Tu quando passas os
jogos no banco a atirar calduços aéreos aos jogadores, prontos pá, ganhas o
tipo de mentalidade necessária para atirar amendoins e gelados por cima desta
gente toda, portantos pá, e ao mesmo tempo estou a contribuir para erradicar a
fome e a paciência dos accionistas da SAD.
Assim,
prevê-se que esta solução possa finalmente satisfazer todas as partes, nomeadamente
a parte que só agora despertou para o estilo que Jorge Jesus sempre teve, em
particular nos 6 anos em que dirigiu o Benfica.
Acusado de dirigir uma rede que
subornava e coagia árbitros, dirigentes, jogadores, jornalistas e outros
agentes desportivos, Pinto da Costa tem sido, sem dúvida, uma das figuras mais
polémicas do futebol português nas últimas décadas.
E numa altura em que muita
gente ainda se questiona como conseguiu escapar às malhas da justiça, apesar
das provas esmagadoras apresentadas contra si, surgiram entretanto novos dados
que ajudam a fazer luz sobre este mistério.
Após o falhanço retumbante
do caso Apito Dourado, este tem, de facto, sido um tema tabu nos meios
judiciais do país, tendo já atirado para a rua vários magistrados, que
simplesmente não conseguiam manter os escrúpulos de que são detentores à tona
do lodo interminável que é o futebol português.
“Uma pessoa vive para servir
a causa pública, e há dias em que a vida faz sentido. Mas depois do que vi no
processo Apito Dourado, tive um vislumbre daquilo que a alma humana tem de mais
hediondo”, desabafou ao “Esférico” um desses magistrados, que ainda há uns anos
julgava sem pestanejar casos de homicídio e estupro.
“O Esférico” sabe agora,
porém, que a justiça portuguesa pouco mais poderia ter feito neste caso, uma
vez que Pinto da Costa possui, afinal, passaporte diplomático, adquirido nos tempos
em que desempenhava as funções de Embaixador da Fruta ao serviço do FC Porto.
Mais do que as conversas
telefónicas em que foi apanhado a subornar árbitros e a oferecer prostitutas, a
prova maior de que o veterano dirigente usufrui mesmo de estatuto especial é
que continua em liberdade, apesar de ter mantido Lopetegui no cargo durante ano
e meio.
Ainda ontem o histórico
dinossauro portista foi visto a urinar da algália para um parquímetro, a espancar
um jovem inanimado no chão e a fazer grafitis na casa de Mário Figueiredo –
tudo isto perante o olhar impotente e radiante da polícia.
Aos microfones do
“Esférico”, o subintendente Pranchada confessou-nos a sua frustração, a qual,
acima de tudo, é uma demonstração da sua satisfação.
“É um acto de justiça que se
faz, carago!, o direito internacional reconhecer pelo menos este grande homem
que nos deu o penta, a champignons e a Carolina Salgado. Nós, aqui no Porto, já
há muito tempo que andamos a querer implementar, não a “sharia”, mas a
“francesinha”, que é um código de honra cá nosso, e muito bom, nomeadamente no
que toca a defender a nossa honra pilhando bombas da Galp, incendiando boites
e largando corpos no Douro, caso contrário não temos como desviar as atenções
das nossas pilinhas muito diminutas”, explicou. “Mas aqueles mouros de Lisboa,
que nunca arrearam numa senhora com verdadeiro amor de homem, insistem nesta
mariquice da “lei da república”, que nem nos dá o direito de oferecermos, por solidariedade,
uma garrafa de Raposeira às miúdas anémicas que o nosso ilustre Macaco mantém hospedadas
na cave do Calor da Noite.”
O líder portista, antes de partir para as filmagens de 'Grease - Rebeldes da Algália'
Por outro lado, António
Intestino Grosso, conhecido adepto do Porto e sucateiro independente, garante
que tudo não passa de uma cabala montada pelos inimigos lisboetas. “O meu presidente
nunca faria tal coisa! É um amor, um anjo! Um amigo dos desvalidos! Olhe, está
sempre a dar guarida
a estas ganapas escanzeladas que passam fominha na Dragon
Store. Olhe como a Fernandinha está mais coradinha agora! Um primor… E vê-se
que é mesmo amor, sobretudo pela forma como ela está sempre a perguntar-lhe
como vai o coração, se está tudo bem, se sente algum incómodozito, uma coisita
qualquer que seja… Uma delícia!”
Ainda sobre as acusações
antigas de agressões a jornalistas, mostra-se taxativo: “mais um estratagema
desesperado dos mouros! Houve cá um episódio na assembleia-geral… Mas isso foi
o repórter da Sporttv que começou a correr para a rua – mouro e ganancioso como
é –, porque viu a cabeça do Pedro Abrunhosa no horizonte e pensou que era um
ovo Fabergé, e embateu, ao fugir de uns adeptos simpáticos que só lhe queriam
ajeitar o colarinho, no punho de um membro dos Super Dragões que estava nesse
momento a fazer exercícios de consolidação muscular a mando do fisioterapeuta.”
Entretanto, um estudo efectuado
recentemente pela Universidade Lusófona concluiu que 99,9% dos inquiridos
acreditam que Pinto da Costa é culpado dos crimes de que é acusado, mas que
100% dos inquiridos acreditam que merece ser condecorado, por ter “passado a
perna à polícia” durante tanto tempo.
E
se é certo que a justiça não ficará satisfeita neste caso, este estatuto de
imunidade diplomática deverá dar, contudo, uma certa almofada de conforto ao
jurássico dirigente, já que fica protegido das punições decorrentes dos ilícitos
que se cometem nesta idade, tais como conduzir na VCI num estilo encarpado de
contra-mão, aparecer de tanga na praia ou contratar o Nuno Espírito Santo ao
Jorge Mendes porque, apesar de toda a sua sabedoria, ainda não consegue ouvir
“não” como resposta.