Não têm sido felizes os dias
nas trincheiras encarnadas, agora que se sabe que o Sporting escapou
decididamente à bancarrota e que irá mesmo entrar em campo para defrontar o
Real Madrid, em jogo a contar para a Liga dos Campeões.
De um golpe, os adeptos
benfiquistas viram-se privados daqueles que constituíam o princípio, meio e fim
do seu stock de piadas sobre o clube de Alvalade. Dificilmente se verão, nos
próximos tempos, figuras tão importantes como o jardineiro da câmara a dizer
para o colega “amanhã é a Champignons, estás de folga”, ou o copeiro da
Portugália a acusar o amigo de “só bater em ceguinhos na Liga Europa.”
Para um adepto em
particular, o choque foi demasiado grande para aguentar, como explica a sua
mãe, Maria das Dores, ao “Esférico”. “O Tó já andava muito em baixo desde que
soube que o Jesus ia para o Sporting. Mas ia-se aguentando, porque na escola sempre
podia dizer aos lagartinhos que para eles a ‘champiôns, só no sofá’, e
que eram uns sortudos, ‘porque têm sempre folga à quarta’, entre outras
alarvidades típicas de quem tem um cromossoma extra para a basófia.”
Compungida, Maria das Dores olha para o céu, acrescentando “Era quase uma
religião para ele! Chegava mesmo a entrar em transe, como um monge, sempre a
murmurar ‘na quarta jogam na Playstation… na quarta jogam na Playstation’ – e
assim mais de mil vezes.”
Porém, um dia tudo mudou,
quando veio a público que o Sporting não ia desaparecer de um dia para o outro
devido ao diferendo com a Doyen, como tinham garantido estranhamente sincronizados
vários comentadores afectos ao Benfica. Para o Tó, a tragédia precipitou-se a
partir daí. Primeiro foram os anti-depressivos – uma dose cavalar deles –,
depois o acidente fatal. Já nesta terça-feira, vendo Jorge Jesus a fazer a
antevisão do Real Madrid-Sporting, Tó saiu desvairado de casa e nunca mais
regressou. A sonolência mórbida provocada pela medicação e a falta de objectividade
– crónica – que há muito lhe cegava uma das vistas fizeram o resto:
atravessando a estrada na altura errada, acabou por ser atropelado por um
camião carregado de modéstia.
Junto à sua cama de
hospital, a mãe do jovem adepto deixa o aviso: “que isto sirva de lição para
toda a gente! Não se acomodem sempre à mesma piada. Um dia deixa de ser útil e
podem acabar como o meu filho.”
Como o Tó, julga-se que milhares
de outros benfiquistas sofram hoje em silêncio, seja por vergonha, ou falta de
meios para consultarem um especialista. “Isto é como tudo na vida”, afirma o
sociólogo José Pereira Fontório, “num dia pomos toda a nossa fé numa única
piada, habituamo-nos a um certo estilo de gozo, e no dia seguinte tudo muda.
Estas perturbações súbitas de massa cinzenta podem causar danos significativos
nas pessoas, sobretudo em quem já está confuso por anos e anos de numerologia fantasiosa
que não consegue suprir as nossas carências emocionais.”
O jovem Tó continua, à hora
da publicação desta reportagem, em estado de coma no Hospital de Santa Maria,
com prognóstico muito reservado. Não poderá portanto assistir à estreia nos
convocados de João Carvalho, outro futuro Bola de Ouro da melhor formação do
Dubai.
Segundo informações, o estado piorou, pois o corpo clínico do hospital estava a assistir ao Benfica -Besiktas e às 21:29 H as máquinas começaram a dar tocar, os médicos foram verificar e o Tó tinha entrado em convulsões.
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