Cinco! Nada mais, nada
menos, do que cinco artigos sobre José Gomes publicados no site do Record, após
saber-se que o jogador iria colmatar as ausências de Jonas e Jiménez na convocatória
para o jogo de sexta-feira, em Arouca.
Isto assinala um novo máximo
na Escala de Farinha, que mede os níveis de denguice editorial, tendo ainda o
jovem atleta da equipa B do Benfica sido referido em pelo menos 18 outros
artigos noutros jornais, incluindo um sobre um cozinheiro obscuro de Caracas,
que em 1999 (ano do nascimento de José Gomes) terá avistado a imagem do Cristo
Redentor nas regiões baixas de uma tortilla no restaurante onde
trabalhava. Essa imagem, garantem agora os jornalistas do Record, corresponderia
afinal à do jovem pubescente do Benfica B.
“O Esférico” contactou
fontes próximas do Gabinete de Ejaculações Precoces daquele diário desportivo,
mas não conseguiu obter uma resposta, uma vez que toda a equipa de investigação
foi enviada ao ano de 62 A.C. para procurar igualmente nos céus de Olisipo
(antiga Lisboa) augúrios cósmicos sobre a vinda do Profeta Negro à Terra – que
agora se suspeita ser José Gomes, precisamente.
Esta não é a primeira vez
que os jornais desportivos portugueses são assolados por aquilo que os
compêndios médicos denominam de ‘síndrome do Eusébio renascido’, após no ano
passado Renato Sanches ter sido votado o maior jogador de todos os tempos pela
Academia das Taradices Relativas da imprensa portuguesa.
Segundo o professor Hernâni Bitaites,
laureado em para-psicologia circense, esta patologia enquadra-se no domínio das
infecções contagiosas, bastando, para se dar o contágio, que uma pessoa esteja a
menos de 20 metros das lustrosas madeixas do Nuno Gomes, as quais libertam doses
microscópicas de uma sub-espécie de amianto vermelho capaz de neutralizar a
capacidade de raciocínio de qualquer mamífero consumidor de cebolada.
Os sintomas mais graves são
a inibição da glândula da modéstia, a inclusão da exclamação “Benfica!” a cada
duas frases aleatórias, e o exercício compulsivo de lambe-botismo jornalístico
a troco de bilhetes e copos de whisky do Eusébio.
É de salientar que o emblema
da águia não é alheio a estes surtos, estando por trás da histeria ligada a ‘prodígios’
como Mantorras, Nélson Oliveira, Freddy Adu, Urretaviscaya, Cortez, Carlitos, ou
qualquer jogador que tenha dado um chuto de vermelho vestido.
Embora não seja conhecida
uma cura definitiva para esta condição, é de conhecimento comum que uma estadia
nas neves da Antártida pode ter efeitos suavizantes e aliviar a pressão
constantemente sentida para se inventar notícias.
Que o diga
joaquim_mangusto_1239, pseudónimo virtual de um ex-jornalista, que foi
internado por esgotamento na ala psiquiátrica do Júlio de Matos em 2015, após
os fatídicos dias que se seguiram à estreia de Renato Sanches. “Foi uma
loucura! Ainda mal o miúdo tinha dados dois nós num defesa do Tondela e já
estávamos encarregados de imaginar para ele todo um futuro que jamais
acontecerá, para justificarmos as despesas em porta-chaves que o glorioso
tem connosco. Nem o Ronaldo teve direito a tantas manchetes fictícias!”, afiança o
malogrado repórter. E remata: “É verdade que o José Gomes ainda nem convocado
foi e oferece tanta esperança como a careca do Krpan, mas tem tudo para superar
os números do Ronaldo nas alucinações colectivas das redacções de Portugal
inteiro, porque foi isso que o saudoso Mário Wilson previu numa noite em que a constelação
de Libra estava alinhada com o Estádio da Luz – e isto é factual!”
Nota da redacção: Ao fecho desta edição José
Gomes já se havia estreado com a camisola encarnada, estando 5 minutos em campo
e originando de imediato uma corrida aos bancos panamianos por parte de Peter Lim e do
Wolverhampton, para definir quem conseguirá bater os cerca de 50 milhões que o
jogador ter-se-á valorizado no decurso de dois sprints inconsequentes e uma
desmarcação sideral. Isto, note-se, apesar de militar numa equipa que joga um
sucedâneo pobre daquilo que é normalmente chamado futebol.
É tão bom tão bom que, segundo o Record, mesmo sem rematar à baliza, esteve a centímetros do golo.
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