Numa altura em que muito se
especula sobre o estado psíquico dos jornalistas desportivos portugueses, com a
saída de várias notícias contraditórias e as crónicas de Miguel Sousa Tavares, surgiram
mais sinais alarmantes sobre o momento actual da imprensa portuguesa. No mesmo
dia dois jornais rivais fizeram manchete com o mesmo jogador de futebol. E se o
Record dava Rafa como “perto do Benfica”, já A Bola dava o mesmo jogador como
“perto do Porto”.
As implicações podem ser
mais graves do que uma mera indigestão jornalística, segundo o astrofísico Dr. Serafim
Via Láctea. “Ao apresentarem capas iguais, mas completamente contraditórias,
ter-se-á aberto uma fissura no plano espaço-temporal do futebol, no qual todo o
mundo futebolístico pode abater-se sobre si próprio.” Este incidente de
proporções cósmicas poderá, na opinião do reputado cientista, advir daquilo que
os Aztecas previram há mais de mil anos nas suas escrituras: a chegada à Terra da
Serpente da Morte e Escuridão, uma criatura multiforme que se esconde nas
casas-de-banho dos dirigentes clubísticos e que se alimenta dos sonhos
desfeitos de jovens adeptos de futebol impondo aos clubes jogadores medíocres a
serem pagos a 20 anos.
De facto, aquilo que
aparentava ser uma contradição insanável foi apenas uma de muitas do género que
surgiram recentemente na imprensa desportiva, uma tendência que parece
agravar-se quando os termómetros ultrapassam os 35 graus.
Uma investigação aprofundada
do “Esférico” concluiu, após folhear os diários desportivos de hoje, que cerca
de 80% dos repórteres sofrem de demência aguda, induzida por um contacto
permanente com fontes “próximas”, “seguras” ou “fiáveis” que estão “dentro”,
“ligadas” ou “implicadas” nos processos mais importantes que ninguém conhece.
A maior parte desses
jornalistas estará a ser tratada numa estância balnear do Dubai, com fundos
provenientes da ADSE. Os restantes 20% serão estagiários recrutados à pressa na
tuna académica da Escola Superior de Comunicação Social.
Para chegar ao fundo deste
tema, “O Esférico” encontrou-se com o editor-chefe de um jornal de referência
numa praia local, onde este se encontrava com a restante redacção do seu jornal.
“Peço desculpa”, começou por
dizer, aclarando a garganta, “estou aqui a beber um daiquiri de morango, que de
modo nenhum foi pago pelo Jorge Mendes para eu usar as palavras ‘super
empresário’ sempre que falo nele ou nunca mencionar os negócios suspeitos que a
polícia espanhola, por malícia, está a investigar. Os meus repórteres não
recebem ordens de ninguém de fora, e são livres de escreverem o que quiserem
sobre o Luís Filipe Vieira ser uma pessoa tão maravilhosa. Aliás, estou como o
Major Valentim, que não conhecia nada nem ninguém quando foi detido por
corrupção.”
Sobre as acusações de
incúria de que os jornais estão a ser alvo, mostrou-se hesitante ao princípio
nas suas respostas. Porém, após sorver mais alguns goles do seu daiquiri e de
se vangloriar fraternalmente sobre as suas conquistas sexuais, lá acabou por
esclarecer tudo.
“Olhe, isto está tudo
controlado, na verdade. Nós no verão só temos tiragem por causa das varinas do
Algarve, que precisam de um bom papel-couve cheio de redundâncias para
embrulharem os besugos e as sardinhas, por isso deixámos lá o Cosme, que é
estagiário e bom moço, e é ele que atende a linha especial das fontes seguras.”
“O Esférico” tentou entrar
em contacto com Cosme, mas tal não foi logo possível, por este se encontrar a agredir
violentamente o sentido ético da sua consciência.
Porém, após alguma
insistência, conseguimos chegar à fala com o jovem no centro da polémica. Ao
telefone, deparámo-nos com uma pessoa confiante e ambiciosa, cujo sonho de vida
passa por, um dia, garantir o cargo de apresentador-pindérico do Love On Top.
“Escuta lá ó cota, eu agora
estou muito ocupado, tenho aqui pelo menos quatro fontes com sotaque brasileiro
a garantirem-me que o Slimani vai de certezinha para o United, o Milan, o PSG e
o Olivais e Moscavide, por isso tenho de confirmar os factos todos escrevendo
sobre eles na próxima edição do jornal!”
Mas o que diz sobre as críticas
de que os jornais são pouco fidedignos?
“Olha, pázinho, isto é
assim, tenho tido grandes dias, confesso, desde que a malta abalou de férias e fiquei
aqui sozinho. Já no outro dia escrevi que o Milan estava falido, e duas páginas
à frente escrevi que estava a nadar em dinheiro. E só meia-dúzia de importunos
com a mania das verdades é que repararam nisso! E ontem pari a minha
obra-prima! Depois de colocar, no mesmo dia, o Bas Dost, o Castaignos e o
Haller no Sporting, foi o Joel Campbell que veio e ainda consegui convencer
toda a gente de que já todos sabíamos disso aqui na redacção. Foi épico!”,
exultou.
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