sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Jornais culpam estagiário bêbado por notícias de pré-época


Numa altura em que muito se especula sobre o estado psíquico dos jornalistas desportivos portugueses, com a saída de várias notícias contraditórias e as crónicas de Miguel Sousa Tavares, surgiram mais sinais alarmantes sobre o momento actual da imprensa portuguesa. No mesmo dia dois jornais rivais fizeram manchete com o mesmo jogador de futebol. E se o Record dava Rafa como “perto do Benfica”, já A Bola dava o mesmo jogador como “perto do Porto”.

As implicações podem ser mais graves do que uma mera indigestão jornalística, segundo o astrofísico Dr. Serafim Via Láctea. “Ao apresentarem capas iguais, mas completamente contraditórias, ter-se-á aberto uma fissura no plano espaço-temporal do futebol, no qual todo o mundo futebolístico pode abater-se sobre si próprio.” Este incidente de proporções cósmicas poderá, na opinião do reputado cientista, advir daquilo que os Aztecas previram há mais de mil anos nas suas escrituras: a chegada à Terra da Serpente da Morte e Escuridão, uma criatura multiforme que se esconde nas casas-de-banho dos dirigentes clubísticos e que se alimenta dos sonhos desfeitos de jovens adeptos de futebol impondo aos clubes jogadores medíocres a serem pagos a 20 anos.

De facto, aquilo que aparentava ser uma contradição insanável foi apenas uma de muitas do género que surgiram recentemente na imprensa desportiva, uma tendência que parece agravar-se quando os termómetros ultrapassam os 35 graus.

Uma investigação aprofundada do “Esférico” concluiu, após folhear os diários desportivos de hoje, que cerca de 80% dos repórteres sofrem de demência aguda, induzida por um contacto permanente com fontes “próximas”, “seguras” ou “fiáveis” que estão “dentro”, “ligadas” ou “implicadas” nos processos mais importantes que ninguém conhece.

A maior parte desses jornalistas estará a ser tratada numa estância balnear do Dubai, com fundos provenientes da ADSE. Os restantes 20% serão estagiários recrutados à pressa na tuna académica da Escola Superior de Comunicação Social.

Para chegar ao fundo deste tema, “O Esférico” encontrou-se com o editor-chefe de um jornal de referência numa praia local, onde este se encontrava com a restante redacção do seu jornal.

“Peço desculpa”, começou por dizer, aclarando a garganta, “estou aqui a beber um daiquiri de morango, que de modo nenhum foi pago pelo Jorge Mendes para eu usar as palavras ‘super empresário’ sempre que falo nele ou nunca mencionar os negócios suspeitos que a polícia espanhola, por malícia, está a investigar. Os meus repórteres não recebem ordens de ninguém de fora, e são livres de escreverem o que quiserem sobre o Luís Filipe Vieira ser uma pessoa tão maravilhosa. Aliás, estou como o Major Valentim, que não conhecia nada nem ninguém quando foi detido por corrupção.”

Sobre as acusações de incúria de que os jornais estão a ser alvo, mostrou-se hesitante ao princípio nas suas respostas. Porém, após sorver mais alguns goles do seu daiquiri e de se vangloriar fraternalmente sobre as suas conquistas sexuais, lá acabou por esclarecer tudo.

“Olhe, isto está tudo controlado, na verdade. Nós no verão só temos tiragem por causa das varinas do Algarve, que precisam de um bom papel-couve cheio de redundâncias para embrulharem os besugos e as sardinhas, por isso deixámos lá o Cosme, que é estagiário e bom moço, e é ele que atende a linha especial das fontes seguras.”

“O Esférico” tentou entrar em contacto com Cosme, mas tal não foi logo possível, por este se encontrar a agredir violentamente o sentido ético da sua consciência.

Porém, após alguma insistência, conseguimos chegar à fala com o jovem no centro da polémica. Ao telefone, deparámo-nos com uma pessoa confiante e ambiciosa, cujo sonho de vida passa por, um dia, garantir o cargo de apresentador-pindérico do Love On Top.

“Escuta lá ó cota, eu agora estou muito ocupado, tenho aqui pelo menos quatro fontes com sotaque brasileiro a garantirem-me que o Slimani vai de certezinha para o United, o Milan, o PSG e o Olivais e Moscavide, por isso tenho de confirmar os factos todos escrevendo sobre eles na próxima edição do jornal!”

Mas o que diz sobre as críticas de que os jornais são pouco fidedignos?

“Olha, pázinho, isto é assim, tenho tido grandes dias, confesso, desde que a malta abalou de férias e fiquei aqui sozinho. Já no outro dia escrevi que o Milan estava falido, e duas páginas à frente escrevi que estava a nadar em dinheiro. E só meia-dúzia de importunos com a mania das verdades é que repararam nisso! E ontem pari a minha obra-prima! Depois de colocar, no mesmo dia, o Bas Dost, o Castaignos e o Haller no Sporting, foi o Joel Campbell que veio e ainda consegui convencer toda a gente de que já todos sabíamos disso aqui na redacção. Foi épico!”, exultou.

Fica assim desvendado um dos grandes mistérios que tem feito desta silly season uma das mais entusiasmantes de que há memória. Quanto ao seu futuro, Cosme mostra-se cauteloso. “Olha, méne, para já, para já, vou convidar aqui para a redacção o pessoal das tunas, para cantarmos uns fadinhos e inventarmos umas baboseiras para o jornal de amanhã. E depois, só o tempo o dirá, nomeadamente os 5 minutos que demoro a escrever aquilo que me vem à cabeça.”

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