E ao primeiro jogo da época em
casa, o Benfica tropeça. De facto, dificilmente as coisas poderiam ter corrido
pior à equipa encarnada na 2ª jornada do campeonato, a começar desde logo pela
equipa sadina, que se apresentou num grau competitivo avesso aos desígnios do
treinador da águia, Rui Vitória.
Após o apito final, apenas desolação
nas bancadas. As faixas tão galhardamente exibidas foram rapidamente retiradas,
a águia Vitória recolheu à gaiola e milhares de adeptos que rumaram à Luz sumiram-se
na noite sem perspectivas de vida para o dia seguinte.
Nas imediações do estádio
ainda se imolavam os últimos couratos ao Deus Renato, quando o treinador do
Benfica deu entrada na sala de imprensa. Apesar do desalento óbvio, no ar
pairava o consenso generalizado de que o Benfica tinha afinal ganho o jogo, sensação
comum entre as mais altas cúpulas do
clube e o adepto vulgarmente conhecido por ‘Barbas’. E, se na classificação
geral não lidera, na tabela dos delírios colectivos surge já como líder
destacado, estando apenas a um triunfo de se sagrar campeão pela 112ª vez desde
a sua fundação.
Então, o que mudou, afinal, para
que as coisas não tivessem corrido de feição? Rui Vitória responde.
“No ano passado eu podia
colocar todas as minhas perguntas sobre táctica, treinos e contratações ao
cérebro do Jorge Jesus, que o Gaitan guardava sempre com muito carinho na
mochila do treino. Este ano, infelizmente, é o que se vê. O Gaitan pisgou-se,
levou com ele o cérebro do Jesus para continuar a pedir-lhe conselhos sobre
futebol e discos do Toni Carreira, e eu estou obrigado a desenrascar-me
sozinho”, desabafou o auto-denominado ‘rei da postura’, audivelmente maçado.
“A criatividade não é o meu
forte, confesso. Uma vez participei num concurso de culinária na escola e a
única coisa que me saiu foi uma cebolada insonsa. Posso dizer que disponho os
meus bifinhos no tacho como disponho os meus jogadores em campo, tudo ao molho
e o Jonas lá na frente. Não estava era à espera que o Setúbal usasse a minha cebolada
para construir uma barreira impenetrável à frente da baliza... Se isto pega,
vamos ter de comprar um 10º extremo, para ajudar-nos a comer este mingau todo e
abrir umas brechas na defesa contrária.”
Falando depois sobre outros
projectos culinários que tem em vista para o futuro, o treinador do Benfica fez
ainda a antevisão do que resta da temporada. “Agora, sem as ideias do Jorge
Jesus, e com uns 17 extremos novos que todos os dias me pedem orientações,
estou à beira de um esgotamento nervoso. Aliás, só este estado de letargia
mental que me persegue para todo o lado é que pode explicar que, com uns 7
atacantes no plantel, tenha posto o Pizzi a avançado. Não é fácil ter
pensamentos…”
Rui Vitória, que voltou a não
falar da arbitragem referindo-se apenas várias vezes ao árbitro, ao homem do
apito e aos juízes que avaliam os lances, respondeu ainda a uma série de
perguntas colocadas pelos jornalistas, como por exemplo o que achou do elegante
voo da águia Vitória antes do apito inicial, em que lugar coloca Luís Filipe
Vieira no seu top de ídolos, e quantos dedos tem uma mão.
“O Esférico” tentou ainda
colocar uma questão sobre a alegada insatisfação de Luisão, mas, curiosamente,
as luzes apagaram-se nesse preciso instante e o sistema de rega disparou na
sala de imprensa, deixando os repórteres presentes extasiados com a
funcionalidade dos aspersores benfiquistas.
Já o presidente do Benfica,
no seu habitual estilo de não dizer nada dizendo tudo por interposta pessoa,
terá sido ouvido a criticar hipotética e duramente a arbitragem junto do vice-presente
do conselho de arbitragem, que poderá ter estado ou não ao lado de Luís Filipe
Vieira na tribuna da Luz, dependendo de que lado é que o Pedro Guerra acordou
hoje.
Apesar da fúria dos
encarnados, “O Esférico” sabe, contudo, que a direcção do clube decidiu não
revogar os vouchers a que a equipa de arbitragem tem direito, tendo apenas dado
ordens à Catedral da Cerveja para que fossem servidas sandes de atum com molho da
glândula biliar do João Gobern, em vez da tradicional Lagosta à Capela.
Finalmente, destaque também
para a equipa do Vitória de Setúbal, que, no meio de tanta infelicidade dos
jogadores da casa, ao conquistar 1 ponto consegue ser notícia pelos piores
motivos.
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